A reabertura de Nova York já completou um mês e meio, mas caminhar pelas ruas da cidade ainda dá uma estranha sensação de inquietude. Os engarrafamentos perenes sumiram. A trilha sonora exasperante das buzinas está mais quieta. Sobra espaço nas calçadas de Midtown, normalmente disputadas por nova-iorquinos apressados e turistas contemplativos. Peças e musicais só retornarão aos teatros da Broadway em 2021. Muitos restaurantes seguem fechados, e ninguém sabe quais vão reabrir quando os salões internos puderem voltar a operar. Num sábado recente, a região do Greenwich Village, uma das mais agitadas da noite de Manhattan, estava às moscas. Alguns poucos bares serviam clientes na calçada, mas nada parecido com a energia boêmia habitual do bairro. A cidade que não dorme parece estar num estado de hibernação. Grandes cidades já sobreviveram a guerras, pandemias e catástrofes naturais muito mais devastadoras do que a atual. Ninguém duvida que o dinamismo e a energia voltarão a Londres, Paris, São Paulo ou Xangai. Mas essas metrópoles poderão emergir diferentes da crise atual. A natureza do trabalho mudou. A urgência da pandemia tirou da inércia muitas empresas que resistiam ao teletrabalho. As horas perdidas durante o trajeto para o escritório viraram tempo extra para dedicar à família. E as malhas de transporte coletivo que sempre foram um sinal de sucesso nas grandes cidades hoje estão abandonadas pelos passageiros e sangram dinheiro. O Twitter anunciou que seus funcionários poderão trabalhar de casa para sempre se quiserem. A Fujitsu vai cortar pela metade o espaço físico que ocupa no Japão. Os escritórios de Facebook e Google, que juntos empregam mais de 150.000 pessoas no mundo, ficarão vazios até o fim no ano, no mínimo. A densidade de talentos, essencial para o sucesso das metrópoles e o atrativo que levava muita gente a se espremer em apartamentos minúsculos e vagões de metrô lotados, agora é um repelente.